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Arrecadação cai pelo 4º mês seguido e põe em xeque meta de ajuste fiscal
Postado em 05/03/2015
Prejudicada
pela queda do movimento na indústria e no comércio, a arrecadação de
tributos federais caiu pelo quarto mês consecutivo, segundo dados
divulgados nesta quarta (25). O resultado ameaça as metas para a
recuperação das contas públicas neste ano.
Mesmo com o fim de alguns benefícios fiscais, a arrecadação em janeiro
teve queda de 5,4% em relação ao mesmo período do ano passado,
considerada a inflação. Totalizou R$ 125,3 bilhões, valor abaixo das
expectativas da Receita.
O resultado de janeiro ainda não contabiliza os aumentos de impostos
feitos pela atual equipe econômica, como os da gasolina e IOF.
O recolhimento de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), por
exemplo, caiu 2,68% em comparação com janeiro de 2014, mesmo com a
retirada da desoneração desse imposto sobre alguns setores.
A recomposição do IPI sobre carros, por exemplo, foi anulada pela queda
nas vendas do setor, resultando em diminuição de 5,71% do imposto em
janeiro, segundo dados divulgados pela Receita nesta quarta-feira (25).O
resultado ainda não incorpora os efeitos do pacote de aumento da carga
tributária baixado pela equipe do ministro Joaquim Levy, da Fazenda,
cujo objetivo é obter R$ 20 bilhões adicionais neste ano.
Foram registradas quedas no recolhimento de Cofins (3,9%), PIS (4,8%),
Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (13,8%, equivalente a R$ 2,2
bilhões) e a CSLL (9%).
Também despencou - queda de 10,5% - a receita da Previdência Social,
principal alvo das desonerações tributárias promovidas pelo governo
Dilma Rousseff para incentivar a geração de empregos.
“O mau desempenho da arrecadação em janeiro não é novidade”, comentou o
economista José Roberto Afonso, pesquisador do Ibre-FGV. “É sequência
do que acontece desde o segundo semestre de 2014 e não tem nada a ver
com a nova equipe ou a nova orientação.”
Segundo ele, a queda nas receitas tem sido mais intensa do que a da
própria atividade econômica por três fatores principais. Primeiro,
porque setores que respondem por grande parte da arrecadação vivem uma
“crise particular”. É o caso do petróleo, da energia e, em menor escala,
dos bancos oficiais. As receitas com bancos caíram porque eles deixaram
de recolher elevados dividendos ao Tesouro, e esses pagamentos tinham
como efeito colateral o recolhimento de tributos sobre lucro e
faturamento.
A atual equipe paga o preço também pela sequência de refinanciamentos
das dívidas com a Receita. “Foi uma bomba de efeito retardado”, diz
Afonso. Ele aponta um terceiro fator. “Tal como em 2008, grandes
empresas estão deixando de pagar impostos para compensar a falta de
crédito”, afirmou. Para Afonso, nada disso é responsabilidade da atual
equipe.
Para manter o certificado internacional de investimento seguro, o
governo promete poupar neste ano, com a ajuda de Estados e municípios,
R$ 66,3 bilhões para o abatimento da dívida pública.
No ano passado, as despesas com pessoal, custeio administrativo,
programas sociais e investimentos superaram as receitas em R$ 32,5
bilhões.
Há, portanto, uma diferença de quase R$ 100 bilhões entre o deficit de
2014 e o saldo prometido para 2015. Com a arrecadação ameaçada e a
resistência política aos cortes de despesas, é crescente no mercado o
ceticismo quanto ao cumprimento da meta.
De acordo com Claudemir Rodrigues Malaquias, chefe do Centro de Estudos
Tributários e Aduaneiros da Receita Federal, não há previsão para que a
tendência de queda na arrecadação, que vem desde o ano passado, se
reverta.
O governo acredita que as receitas do governo só vão se recuperar quando a atividade econômica retomar o fôlego.
Fontes: Estadão online e Folha.com